quarta-feira, 4 de março de 2015

Máquina de contar notas

Fui hoje fazer um depósito no meu banco. Entreguei as notas e o caixa contou-as à mão. Se tivesse usado aquela máquina de contar notas que tinha ao seu lado não me teria lembrado de uma estória que remonta à minha infância.

Eu era uma criança, um adolescente. Preocupado com a educação e o desejo de me responsabilizar cedo (não sei se o conseguiu, mas se o objetivo não foi alcançado é sobre mim que impende a falha) meu pai encarregava-me, algumas vezes, de ir ao Banco Português do Atlântico fazer o depósito do "apuro" - as receitas diárias da sua mercearia e talho.

Levava as notas em maços agrupados pelo respetivo valor (20$00, 50$00, 100$00...), feitos meticulosamente pela senhora D. Gabriela Bulcão, a caixeira do estabelecimento, de uma inquestionável honestidade, que os comprimia entre elásticos cruzados.

Com uma pasta de cabedal seguia até ao banco com a indicação de não me distrair fosse com o que fosse. Penso que ainda hoje seria possível uma criança transportar dinheiro desta forma sem ser importunada, numa terra que preserva os seus brandos costumes, felizmente.

Entrava no banco, na fila do caixa e com a cabeça pouco acima do balcão entregava o dinheiro. Ficava, sempre, estupefacto com a velocidade com que o funcionário contava as notas. Era estonteante a forma como os dedos vibravam sobre os maços.

Quando meu pai me encarregava desta tarefa, quase sempre preferia ficar a andar de bicicleta na Praça da República, numa altura em que se reuniam por ali mais de 20! Mas o gosto e a renovada surpresa de ver a manipulação das notas eram suficientes para ir fazer o depósito menos contrariado.

Hoje, quando fui ao meu banco e o funcionário contou as notas à mão, bem mais devagar, lembrei-me desta estória. Quem me atendeu foi o filho do senhor José Lobão, o caixa do Banco Português do Atlântico naquele tempo.

Há 40 anos estava eu longe de imaginar que haveria de existir uma máquina tão rápida como as mãos do pai do Rúben!

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