sábado, 20 de junho de 2015

Homenagem ao falecido bombeiro João Humberto Serpa

O senhor João Serpa era 22 anos mais velho do que eu. Quando eu tinha 10 essa diferença parecia maior e a atitude perante ele era, naturalmente, do maior respeito. Na Praça da República encontrava-o várias vezes, nesse tempo da minha infância. O senhor João Serpa andava sempre pelos bombeiros e por vezes quedava-se, delicado e atencioso, perante a curiosidade dos rapazes que o viam sair do quartel e estacionavam as suas bicicletas junto a um daqueles saudosos bancos encarnados. Sentado, contava estórias dos bombeiros com um interessante sentido pedagógico, rodeado de semblantes ávidos de peripécias. Cedo os bombeiros me tocaram na sensibilidade, pois, morando nos primeiros anos de vida na Rua de São João, junto às escadinhas, o silvo da sereia entrava-me por casa dentro! Por isso, as palavras do senhor João Serpa despertavam-me a maior curiosidade. Lembro-me de ele explicar que os carros dos bombeiros, apesar da urgência, tinham que respeitar as regras de trânsito - aqui está o sentido pedagógico que referi há pouco. Mais ou menos dez anos depois tornei-me bombeiro. Não foi indiferente a esta "vocação" o facto de, depois da Rua de São João, ter vivido na Rua Serpa Pinto, sempre com os bombeiros à ilharga. Mas posso dizer, com convicção, que também fui bombeiro por causa do senhor João Serpa!